Será que o impacto é sempre um vilão?
A atividade física de alto impacto, como a corrida, tem sido frequentemente alvo de discussões e preocupações quanto aos possíveis danos que podem causar às articulações. Muitas pessoas acreditam que o impacto da corrida pode levar ao desgaste e ao desenvolvimento de dor e outras condições como a artrite. No entanto, basta a gente se atualizar com as evidências científicas recentes para constatar que essas preocupações precisam ser reconsideradas.
Pesquisadores da Universidade de Stanford, na Califórnia, analisaram radiografias dos joelhos de dois grupos de indivíduos, um composto por corredores e o outro de não corredores, ao longo de quase 20 anos e descobriram que os corredores não apresentavam um maior desgaste articular quando comparados aos não corredores.
No início na pesquisa, 6,7% dos praticantes de corrida apresentavam osteoartrite (OA), mas nenhum dos não praticantes apresentava sinais de desgaste. Quase vinte anos depois, essa porcentagem aumentou para 20% nos que corriam e 32,1% nos que não corriam. Olha que interessante! Isso mostra que o grupo de corredores apresentou um menor aumento nos sinais de artropatia (doença da cartilagem do joelho) em comparação aos não corredores ao longo dos anos.
“Ok, caro autor. Você pode até ter me convencido que tudo bem correr para os joelhos, mas para a coluna, bem não faz, correto?”
Há quem diga que a corrida pode causar dor nas costas e danificar os discos intervertebrais, só que mais uma vez vamos recorrer a salvadora ciência que diz através de estudos recentes que a dor nas costas, pasmem, não é algo tão comum em corredores, com taxas de ocorrência de no máximo 20%.
Em 2017, um estudioso do tema chamado Belavey, juntamente com seus colegas, fez uma análise da altura e dos níveis de hidratação dos discos da coluna em pessoas da mesma faixa etária que praticam corrida nos últimos cinco anos, sendo eles corredores recreacionais (20 a 40km de corrida por semana) e corredores de maratona (mais de 50km por semana), em comparação com um grupo de sedentários. Os resultados revelaram que tanto os corredores recreacionais quanto os corredores de maratona apresentavam uma altura (hidratação) significativamente maior dos discos lombares em comparação com os sedentários.
Você pode levar isso para a vida: correr não parece ser prejudicial e nem desgastar os joelhos, tão pouco ser um vilão das dores ou desgaste na coluna. Atividades de impacto, força e esforço físico promovem adaptações positivas nas estruturas do corpo. Se você ainda não se convenceu disso, experimente levar uma vida sedentária e perceba como isso, de fato, não é nada bom para o seu corpo. Agora aqui vai o conselho amigo de um fisioterapeuta corredor: busque uma boa orientação e supervisão de um profissional especializado para que ele seja um guia e facilitador das estratégias e exercícios que melhor funcionam para você e seus objetivos.
Referências
- Chakravarty EF, Hubert HB, Lingala VB, Zatarain E, Fries JF. Long distance running and knee osteoarthritis. A prospective study. Am J Prev Med. 2008 Aug;35(2):133-8. doi: 10.1016/j.amepre.2008.03.032. Epub 2008 Jun 12. PMID: 18550323; PMCID: PMC2556152
- Maselli F, Esculier JF, Storari L, Mourad F, Rossettini G, Barbari V, Pennella D, Cataldi F, Viceconti A, Geri T, Testa M. Low back pain among Italian runners: A cross-sectional survey. Phys Ther Sport. 2021 Mar;48:136-145. doi: 10.1016/j.ptsp.2020.12.023. Epub 2021 Jan 4. PMID: 33434869.
- Belavý DL, Quittner MJ, Ridgers N, Ling Y, Connell D, Rantalainen T. Running exercise strengthens the intervertebral disc. Sci Rep. 2017 Apr 19;7:45975. doi: 10.1038/srep45975. PMID: 28422125; PMCID: PMC5396190.